segunda-feira, 22 de agosto de 2011

LENDAS DE PORTUGAL - XXXIII - BRAGA

S. João e o seu amigo Longuinhos


Na véspera de S. João, vá o leitor ao Bom Jesus e ponha-se à coca da curiosa estátua de Longuinhos. Às duas por três verá raparigas namoradeiras andarem à volta do granito proferindo uma reza que, por ter sido necessário, nunca aprendemos. De qualquer modo, o que elas pretendem com aquilo é casar depressa, hem. e parece que resulta.




Esse Longuinhos, conta a lenda, vivia nos arredores de Braga, perto do Bom Jesus, e era um lavrador muito rico, solteiro e nada experimentado em poucas-vergonhas. Toda a gente o apreciava e saudava com muito gosto. As raparigas até acrescentavam alguma brejeirice ao mutio gosto porque viam nele uma óptima possibilidade de um excelente casamento. Porém, Longuinhos não parecia interessado em ir ajoelhar-se ao altar.

Um dia tinha de acontecer o que sempre acontece. Longuinhos reparou numa tal Rosinha e ficou de olhos abertos, boca aberta, suspirando de amor. Como sempre se soubera guardar, achou que era a hora de partilhar a sua fortuna. Mas para evitar más interpretações quis logo saber quem era o pai da bela rapariga e procurou-o. Era escusado, mas disse-lhe quem era, manifestou-lhe o amor pela filha e a intenção de casar com ela, se ele o consentisse. O homem exultava de alegria, mas não o deixou transparecer. Disse-lhe que ele é quem, de facto, decidia o futuro da filha e, só quando Longuinhos lhe prometeu uma pensão, é que lhe prometeu a noiva.

Todo contente, o velho Pedro chamou a filha e comunicou-lhe Longuinhos seria o seu noivo, que a fora pedir e ele se comprometera a que casassem. A rapariga ficou como a noite, pois namorava com um Artur e diante do altar do Bom Jesus tinha-lhe prometido casamento. O velho, vendo voar-lhe a pensão armou um espalhafato medo, que a Rosinha acabou lhe dizer que casaria com o fidalgo. A rapariga saiu a tremer de ao pé do pai e foi para o seu quarto. Ai começou a orar e lembrou-se de apelar a S. João. E de repente ouviu uma voz dentro de si que lhe dizia que tivesse calma que tudo se arranjaria. Era S. João a fazer das suas. Dali foi ter com Longuinhos, que estava em meditação, e disse-lhe que se ele era tão seu amigo que não desse cabo da felicidade dos jovens Rosinha e Artur que se amavam e ele fora pedir a rapariga ao pai de um modo desastroso, tentando-o com dinheiro.

Longuinhos caiu em si e compreendeu que se a rapariga amava outro, que também gostava dela, ele não tinha o direito de se meter entre ambos. E disse-o ao seu santo predilecto, que ficou muito contente.

"Se me consentes, S. João, eu próprio serei o padrinho desse casamento! Sei que precisam de um bom começo de vida e eu me encarregarei disso. Quanto ao meu amor, cá o entreterei até que se desvaneça!"

S. João correu a avisar a rapariga, que preparasse a boda com Artur que lhe arranjara um bom padrinho. O velho Pedro é que ficou a perder, mas lá se consolou como pôde.

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