sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

LENDAS DE PORTUGAL - XXXVIII - OURIQUE

A DONZELA QUE FOI À GUERRA


Garvão é uma freguesia do concelho de Ourique, e naquele tempo, o das lendas, havia lá o castelo de D. António de Azevedo. Ora este fidalgo tinha uma filha muito bonita chamada Vitória, a quem fazia todas as vontades. Porém, quando ela se fez mulher, decidiu casá-la com um fidalgo rico.

A beleza da Vitória provocava uma fila de pretendentes, mas ela amava um jovem chamado Florêncio, que ganhara fama de guerreiro em Granada, onde combatera os mouros. Só não era fidalgo nem rico, muito menos poderoso. No entanto, o pai, mesmo sabendo que ela amava outro, impôs-lhe como noivo um fidalgo a quem a tinha prometido.

E enquanto Florêncio regressava às lides militares, chegava o noivo oficial de Vitória e o casamento foi anunciado. A rapariga engendrou um plano e dele mandou recado a Florêncio. Queria que ele a raptasse em pleno altar. Assim, o casamento foi marcado e Vitória parecia concordante com tudo. Porém, a cerimónia realizou-se e Florêncio não chegou. O noivo levou-a para o quarto nupcial e disse-lhe que, como esposa, ela deveria obedecer-lhe cegamente! E assim a mandou despir e ir para a cama. Porém, Vitória que, nos seus caprichos de menina rica, sabia bem manejar armas, apanhando o marido longe das suas, desembainhou a espada e enterrou-lha no peito, matando-o. Depois vestiu-se com as roupas do marido, cabelo cortado e, bem armada, saiu do solar.

Depressa Vitória encontrou Florêncio, que se atrasara na viagem. Contou que matara o marido e desejava fugir com ele. Mas mal puderam falar, porque os guardas os cercaram julgando que ele matara o rival e raptara a antiga namorada com a conivência daquele jovem que estava com ela. Porém, era guardas a mais e Florêncio foi feito prisioneiro aos olhos da namorada. E condenaram-no à morte.

Vitória, vestida de militar, passou a ser Vitorino e, metendo-se à estrada, acabou por lutar com uns bandoleiros, dominando-os. E, dizendo-se oficial perseguido pela guarda, concenceu-os que a deveriam ajudar a assaltar a cadeia onde estava Florêncio. Conseguiu e num instante libertaram-no a ele e a todos os presos e incendiaram a prisão.

No campo dos bandoleiros, Vitória, vendo o ar abatido de Florêncio, que a não reconhecia como mulher de armas e a julgava morta, deu-se a conhecer. Depois tentou convencê-lo a fugir com ela. Mas ele achava que ela tinha as mãos sujas com demasiado sangue e resistia.

Não o podendo ter só para si, Vitória, perante os bandoleiros, matou o seu namorado e ela própria o enterrou. Os bandoleiros estavam atónitos, considerando que nem para eles ela servia. Foram-se embora. E ela alistou-se, como homem, para a guerra, onde teve um comportamento heróico.

Mas um dia, ferida de morte, os companheiros viram quem era. E ela morreu pedindo perdão pelos seus pecados.

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