A batalha entre cristãos e muçulmanos tinha sido tão violenta e tantos foram os mortos à lança e à espadeirada, que o sangue correu para as águas do rio, onde não poucos eram os cadáveres mutilados que boiavam. Rio tinto, Rio Tinto.
Os mouros pouseram-se em fuga e eram perseguidos encarniçadamente. E a lenda diz que uma princesa cristã percorria o campo da refrega tentando encontrar o irmão, que pertencia ao exército vencedor e ainda não aparecera. Aflita, ela invocava Santa Justa, mas do irmão nem sinal. Ouviu gemer entre uns arbustos e foi até lá para tentar salvar aquele sobrevivente. Era um príncipe mouro chamado Almançor. Ferido, exangue, ela mesma o tratou.
O jovem mouro contou-lhe que o pai, Abdel-raman, um dos chefes mouros e califa de Córdova, com a vergonha da derrota o abandonara. Que Alá, afinal, o abandonara também e era ela, uma cristã, que se interessava pela sua sorte. Por isso, doravante seguiria o cristianismo. Dulce, assim se chamava o princesa, chamou um frade que também por ali andava em busca de sobreviventes, o qual ali mesmo baptizou o mouro dando-lhe o nome de Fernando. Entretanto, apareceu o irmão de Dulce, que andara desencontrado nas últimas escaramuças da batalha.
A princesa e o frade ajudaram Fernando a esconder-se nos fojos da Serra de Santa Justa, onde ficou não só sob a protecção espiritual do frade como apoiado por Dulcer, que lhe levava roupas e alimentos. Em claro, os jovens apaixonaram-se e o frade casou-os na capela de Santa Justa. Porém, D. Ramiro, o pai de Dulce, é que nunca aceitou este casamento, amaldiçoando a filha. E os dois jovens passaram a viver na serra. Ele caçava e ela encarregava-se da choupana em que viviam.
Como gostava muito do irmão, Dulce, às escondidas de todos descia a um ermo a encontrar-se com ele. D. Ramiro começava a aceitar a casamento e ela estava pendente do perdão paterno para ambos regressarem a casa. Mas fernando, ignorando este relacionamento de Dulce com o irmão, um dia seguiu-a e quando os viu encontrarem-se com manifestações de carinho, deu um salto e apunhalou o rapaz. O moço, ao cair varado ainda conseguiu balbuciar de modo que o casal o ouviu:
"Trazia-te o perdão do nosso pai...." e morreu.
Fernando apercebeu-se do que fizera e gritou:
"Ai de mim, que de infiel me tornei cristão por amor e por amor me perdi!"
E com um gesto rápido, manobrou o alfange e matou-se de um só golpe.
E a lenda diz que o espírito deste lugar se confundiu com a memória dos dois apaixonados "que pensavam zelar a sua honra com o sangue da própria vida", pelo que ficou a chamar-se Montezelo, como mente do zelo, que é como quem diz do ciúme...