terça-feira, 29 de abril de 2014

LENDAS DE PORTUGAL - LXV - ALCOUTIM

A MOURA E O CASTELO

Sabe-se lá quando e por quem Alcoutim foi fundada! Mas sabemos que D. Manuel I lhe atribui foral. Assim como sabemos que num dos mais altos pontos do concelho, à ilharga do Rio Guadiana, há vestígios de um castelo tão antigo que até se diz que foram os mouros que o construíram. Mas, segundo os entendidos, até poderá ser ainda mais antigo.
Ah, e é de supor que não lhes será desconhecido que nesse local está encantada uma moura. É por isso que, pela noite, mesmo com a ideia de que ela dispõe de um imenso tesouro, não há quem se meta a galgar os dois quilómetros entre Alcoutim e o que resta do seu castelo só para a desencantar! E desencantar a moura seria obra. Porquê? Ora, quem o quiser fazer terá de lutar com um monstro, vencendo-o. E aonde é que estão os valentes?
Para melhor precisão, esclarecemos que, bem próximo das ruínas do castelo, há duas velhíssimas azinheiras. Pois a moura encantada, segunda a lenda, anda por ali, pairando. E o candidato a desencantador terá de se apresentar a um 17 de Março, precisamente à meia-noite, apenas armado de armas brancas - punhal, espada, assim. Então aparecer-lhe-á um monstro enroscado, um dragão ou uma serpente, mas de grandes dimensões. E a soprar  furiosamente. Ora isto tem sido uma perspectiva dissuasória em relação ao desencantamento. E a pobre moura lá vai sofrendo a cobardia das gentes, que nem sequer se lembram do tesouro como recompensa a acrescentar!

Pois, temos mais material lendário sobre o castelo. Conquistado este aos mouros em 1240, o rei Sancho II ordenou a alguns cavaleiros que o ocupassem. Entre estes, Rui Gomes que, tomando a chefia, ordenou que fossem poupadas as vidas dos mouros achados ali dentro. Percorreu então todas as instalações, indo dar a uma sala onde se encontrava o ex-alcaide e a sua belíssima sobrinha. Cumprimentaram-se. O mouro disse que a jovem era noiva do filho Hassan, que abandonara o castelo para não conhecer o peso da derrota. Bem, a lenda conta que Rui Gomes e Zuleima, assim ela se chamava, se apaixonaram ao primeiro olhar e viveram felizes uns meses. Até que, uma vez, devido a um pressentimento de que poderia haver um mensageiro do rei para si no castelo,  Rui Gomes a deixou e cavalgou até lá. Ao chegar, foi apunhalado por um mouro embuçado que não era senão Hassan a vingar-se. Mas caindo Rui Gomes aos pés do antigo noivo, assim caiu, desmaiada, Zuleima. O mouro puxou-a para o seu cavalo e partiu a galope. Porém, o assassino foi visto por quatro soldados que o perseguiram e, junto daquelas duas azinheiras referidas a pouca distância da fortaleza, lançaram-lhes as suas lanças e ali mataram ambos. E é por isso que o  espírito da moura anda ali pelas azinheiras. E que há quem ouça um soluçar convulsivo, como se ela ainda chorasse o seu amado Rui, a quem não chegou a tempo de salvar.

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