Um pouco acima onde hoje se vê o castelo de Sesimbra, existia uma povoação celtibera cujo nome se perdeu. Por ali perto ficaria mais tarde a quinta do Calhariz, onde viveu o nosso discreto Alexandre Herculano, sabedor de lendas. Pois era senhor dessa povoação um velho tirano, despótico, que impunha o direito de pernada. Este consistia no direito que se outorgava o senhor em dormir a primeira noite com qualquer mulher que se casasse dentro dos seus domínios. E os domínios daquele indivíduo era a tal povoação. Cinicamente dizia que não era da sua autoria a lei que a tantos repugnava. E como lhe convinha, dela não abdicava. Mas os leitores já viram algo semelhante em lendas anteriores, mas nenhuma que se encaminhasse como esta...
Nessa povoação vivia um rapaz chamado Zimbra que é um nome celtibero, como existe o celta Sesimbrig e o romano Zambra. Tinha uma namorada chamada Maris. E amavam-se. Portanto, queriam casar. E a situação era negra e bem negra. Porém, Zimbra foi falar com a rapariga:
"Tenho uma ideia clara sobre a maneira de evitar que o velho te ponha as mãos!"
"Se fugimos, persegue-nos e apanha-nos. Mata-nos!"
"Não fugiremos. Vamos é sair do seu poder."
E Zimbra mostrou a Maris que no sopé do monte em que estava a povoação ficava a praia, que não fazia parte do território do tirano. A questão é que eles vivessem ali. Eles e os outros. A lei dizia que todas as donzelas que viviam no povoado estavam sob a lei do tirano. A questão é que nem Maris nem ele vivessem no povoado! Parecia muito simples.
E no dia da boda, como de costume, toda a gente se reuniu sob o mesmo tecto comendo e bebendo. O tirano também, sentado em lugar de honra e antegozando os prazeres que iria tirar da bela Maris. Mas estava admirado com a tranquilidade com que Zimbra parecia encarar tudo aquilo. A velha raposa calculava que alguma coisa se passava, mas não sabia o quê. Tinham-lhe pedido autorização para o casamento, haviam feito a boda e nessa noite a rapariga deveria apresentar-se em sua casa. E estavam todos contentes, porquê?
Ficou a sabe-lo nessa mesma noite quando reparou que a rapariga nunca mais lhe aparecia. Mandou os seus guardas a apanhar o casalinho e eles regressaram dizendo que não havia ninguém nas casa do povoado. Nem pessoas nem haveres, estava tudo deserto.
O tirano rugiu e quis saber o que se passava. Uns guardas vieram dizer que tinham descoberto tudo. Bem, toda a população se tinha mudado para umas casas que haviam, construído na praia, fora dos territórios do tirano. E ali eles legalmente nada podiam fazer.
Mesmo considerando isso, raivoso como estava o tirano juntou os seus guardas e foi a nova povoação, na praia. Mas Zimbra e o resto do povo estava prevenido e a luta foi dura. Mas quando caiu o tirano com uma punhalada, os guardas fugiram todos. E nunca mais ninguém quis voltar para a antiga povoação, ficando na que seria a raiz da bela Sesimbra dos nossos dias.
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