Quem chegar a Vila Nova de Cerveira e lançar o olhar para ao mais alto dois montes, apercebe-se do vulto de um cervo. Trata-se de uma escultura de José Rodrigues, um grande artista que vive no antigo cenóbio de S. Paio. Mas decerto também quererá saber o porquê daquela homenagem. Aqui terá a lenda do rei dos cervos, do Cervo Rei, que é o que representa aquela obra de arte.
Pois contam os mais velhos que há muitos, muitos anos, sendo a caça uma questão de sobrevivência, já havia um certo prazer da mesa que indicava ser a carne de cervo das mais saborosas. E os cervos sentiam na pele as lanças e as setas dos seus perseguidores, pelo que se foram metendo para umas matas montanhosas junto de um rio. Naturalmente, buscavam a salvação. E pensaram que se estivessem organizados melhor se salvavam das perseguições. Importava conseguirem um chefe que os dirigisse. E esse chefe teria de ter a sabedoria e a capacidade de ser tão importante como um deus!
E surgiu entre eles um cervo enorme e poderoso a quem logo prestaram homenagem e obediência. E o Cervo Rei decidiu que deveriam constituir um reino onde ninguém mais entrasse, que essa seria a salvação de todos. E bem lutaram todos contra homens e outros animais que ousavam aproximar-se dos limites da Terra da Cervaria, tentando entrar. E isso fez com que o Cervo Rei se julgasse invencível. Celtas, romanos, mouros ciaram tantos deles como cervos em lutas ferozes. Assim, quando se formou o Reino de Portugal, naquela montanha que vemos, só o Cervo Rei existia de uma manada enorme que havia povoado a Terra de Cervaria!
Calhou então que um cavaleiro português entendesse não ser aceitável que encostado ao novo reino de Portugal houvesse um reino de cervos. Assim, desafiou o Cervo Rei para um combate sem tréguas. Já viam que venceria. Aceite o duelo, preparou-se o cavaleiro, levando o seu mais belo escudo adornado com as cinco quinas.
Porém, o Cervo Rei venceu e matou o cavaleiro. O combate foi num local a que hoje chamam Valinhas. E então, o majestoso animal, na posse do escudo e da bandeira, retirou para as suas paragens. E lá no alto fez desfraldar a bandeira do adversário para anunciar que fora ele o senhor da vitória. Porém, a partir daí, cada vez se viu menos o cervo até que nunca mais ninguém o viu.
As gentes, que não cessavam de vigiar a Terra de Cervaria entenderam que poderiam meter à confiança o pé naquele lugar proibido. E logo lá entrou um grupo que, impunemente andoiu por onde quis. Até que deu com o cadáver do Cervo Rei, esquelético, chagado, tendo entre as patas o escudo com as quinas portuguesas, como se o velho chefe daquelas terras quisesse indicar quem lhe sucederia.
Os homens fixaram-se então num povoado que construíram à beira do rio. E na sua bandeira colocaram um cervo num fundo verde que representa aquela bela terra no Alto Minho.
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