Ainda hoje muitos portugueses não sabem o que é uma alfarroba, nem distinguem uma alfarrobeira - e Portugal chegou a ser o segundo maior produtor mundial deste fruto, a seguir à Espanha. Como muitas outras coisas, estas vagens foram trazidas pelos árabes para a Península Ibérica e para o Norte de África a partir da antiga Mesopotâmia - uma origem não tão consensual como isso devido à grande amplitude de temperaturas nessa região, que não será, defendem alguns estudiosos, muito adequada ao desenvolvimento das alfarrobeiras. Com as alfarrobeiras vieram lendas como a de Silves, que falam de mouras encantadas ao seu redor. Os romanos também não foram insensíveis aos atributos da vagem, e iniciaram uma prática, detalhe curioso, que perdurou até há poucas décadas no Algarve mais rural: mascá-las secas, com uma concentração de açúcar de 60 por cento, como uma espécie de guloseima. No Novo Testamento poderá estar parte da explicação, por associação a João Batista, para as alfarrobeiras também serem chamadas de pão-de-joão ou pão-de-são-joão.
No barrocal algarvio, entre a serra e o litoral, estas árvores de sequeiro - tal como a oliveira, a amendoeira e a figueira - acharam condições ideais para proliferar, mas nos últimos 20 anos a sua área de cultivo tem vindo a diminuir (algo em torno dos cinco mil hectares) e o preço da arroba passou dos 10 para cerca de cinco euro. Não é cenário muito animador para os produtores, que mesmo assim estão atentos às novas modas. Há várias indústrias de transformação da alfarroba em farinha. Alimento de homens e animais, este com poste foi recuperado pelos arautos da vida saudável, que vieram dar-lhe um segundo fôlego - em tempos de intolerâncias e substitutos, a alfarroba é um superalimento graças à presença das vitaminas A, B1 e B2, cálcio, magnésio, potássio e diversos minerais. E tem menos 17 por cento de gordura e menos 33 por cento de calorias que o chocolate.
É um mercado apetecível que levou a Faculdade de Engenharia Alimentar da Universidade do Algarve a desenvolver e a comercializar, desde março duas barras energéticas (uma de 25 gramas, com 100 kcal, e outra de 50 gramas, com 200 kcal) que têm na sua base o figo, a amêndoa e a alfarroba. A única dificuldade é fazer a separação da semente (com maior valor devido à existência de LGB, um espessante natural muito procurado internacionalmente) da polpa (menos valiosa).
Muito resistentes e pouco exigentes, as alfarrobeiras são, por outro lado, um investimento a longo prazo. Demoram anos a crescer e o lucro não vem fácil. Há, felizmente, quem veja nisso um contributo para as gerações futuras - muito frondosas, elas fazem sombra permitindo baixar a temperatura e o aparecimento de outras plantas num processo de regeneração dos solos esgotados. É um processo demorado, que pode levar até cem anos. Bastam apenas uns dias para percorrer alguns dos pontos turísticos a ela associados. E aborear um Algarve que foge aos estereótipos.
evações - 10.7.2015
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