terça-feira, 16 de dezembro de 2008

LENDAS DE PORTUGAL - II - FARO

O falso juramento

De Harune o nome da terra foi a Haron, de Haron passou a Farão e só passado o século XVI é que o topónimo se estabeleceu em Faro. Pois ao tempo desta lenda ainda era Farão e o Rio Seco ainda era beneficiado com a entrada das marés. Pois estão a ver essa graciosa rapariga que está a lavar um monte de roupa fina? È a Joana, mas a roupa não é dela. A Mãe contratou lavá-la a um jovem casal de posses residente em Farão e a filha é que faz o trabalho. E como ela canta!
Canta, mas vai pensando na sua vida,. Apesar de tudo, bem lhe apetecia ser dona daquela roupa, banhar-se na límpidas águas do rio e vestir tão belos linhos. Sim, que ela tinha a noção que não era ninhuma cara feia. Vaidosamente, Joana olhou as águas. E teve um estremecimento. Havia um homem junto de si!
Joana voltou-se e encarou-o. Era jovem e bonito. Mouro, decerto era da fortaleza que havia mais em cima. Cumprimentaram-se, ela enleada. Ele gabou-lhe a voz e disse que precisava de falar-lhe, que deixasse a roupa que faltava lavar para o dia seguinte. Insistindo ela no que queria, respondeu-lhe o mouro vir ao seu chamado, o que muito a surpreendeu, pois não só não o conhecia como nem o chamara! Ele disse que gostava dela, propôs-lhe casamento e Joana sempre a dizer que não. O mouro, então, pediu-lhe que ela pensasse até ao dia seguinte, mas não trouxesse a mãe consigo, que aquilo era coisa só deles. E também, por isso mesmo, nada dissesse em casa. E lá foi ela ouvir da mãe um raspanete por não ter lavado a roupa toda. Porém, a mãe achou-a esquisita e -la a falar. A filha contou-lhe tudo e foi a mãe que lhe disse como ela chamara o mouro: com uma cantiga!
Cuidando do meu cuidado
Fui ao rio para lavar
Mas logo um mouro encantado
Apareceu a meu lado
Para comigo casar.
Mas porque é mouro encantado
Cristã não pode levar!
A mãe aconselhou-a a levar uma cruz e a obrigá-lo a jurar por ela. Assim se veria se ele tinha boas intenções. E a rapariga assim fez. Disposta a casar com ele, bastaria que o mouro se prestasse aquela pequena prova. Doutro modo seria o que a mãe mais temia: tratar-se-ia de um dos mouros encantados no palácio que havia por debaixo do rio...
La se encontraram os jovens no rio, logo na manhã seguinte, tal como o combinado. Ele hesitou mas acabou por estender a mão sobre a cruz e jurar que casava com ela e a amava. Porém, ao fazer isto, ouviu-se um trovão, fugiu-lhe o cavalo e ele desapareceu também para nunca mais aparecer.
Que pena, era tão bonito...
E assim se salvou Joana.


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