domingo, 29 de junho de 2014

LENDAS DE PORTUGAL - LXVII - VIANA DO CASTELO

O PÁTIO DA MORTE

Possivelmente terão a paciência de procurar na Rua da Bandeira, em Viana do Castelo, a casa onde se situava o Pátio da Morte. Perguntem aos velhos da rua, que conseguirão o necessário guia. Depois vão ao Museu Municipal ver um dos protagonistas desta lenda...
No Pátio da Morte esteve, durante anos, uma estátua que diziam encantada. Era de pedra, um cavaleiro antigo, numa atitude de quem, com as mãos, está a evitar que lhe saiam os intestinos. Esta estátua encontrava-se sobre a tampa da sepultura de um jovem fidalgo que havia sido assassinado por outro. Por causa de uma jovem que namorava com ambos. Todos os dias, à meia-noite, a estátua movia-se. Por exemplo, dos olhos de pedra soltavam-se lágrimas e dentre os lábios saíam uns suspiros tão lancinantes que comoviam quem os escutasse. E junto da estátua, abraçando-a, às vezes aparecia o fantasma da rapariga que causara a desgraça. Mas havia algo que impressionava sobremaneira. Se um estranho entrasse naquela altura no Pátio da Morte, levava uma forte pancada que o derrubava. Ah, mas um dia o pátio da Rua da Bandeira foi benzido e nunca mais ali aconteceu nada de estranho. E se estátua até então parecia enraizada no chão, depois da libertação do encanto, já pôde ir dali para o Museu Municipal de Viana do Castelo.

Agora, vá o leitor à igreja de S. Domingos, dirigindo-se de imediato à esquerda do altar-mor. Está aí um túmulo, sabe de quem é? De Frei Bartolomeu dos Mártires. Depois de ler esta lenda, leia-lhe a biografia por Frei Luís de Sousa, que é um monumento do nosso idioma! Foi Frei Bartolomeu que mandou edificar o mosteiro e a igreja de S. domingos da que então se chamava Viana da Foz-do-Lima. Pois quando Filipe II assumiu o trono de Portugal, ele que era arcebispo de Braga, renunciou ao cargo e retirou-se para uma cela do mosteiro que fundara. De quando em quando saía a visitar o bairro piscatório, onde humildemente exercia a caridade. Um dia entrou num lar onde morrera a mulher do dono da casa. Este e a filha do casal tanto tinham rezado pela salvação da senhora mas ela tinha morrido. Estavam desencantados com Deus e receberam mal o visitante, em quem viam apenas um pobre frade. Este ouviu-os, compreendeu-os e ofereceu-se para quando fosse preciso. E, passados tempos, um dia de medonha tempestade, a rapariga foi procurá-lo a solicitar a sua intervenção junto do Senhor. O barco aonde navegava o pai e quatro companheiros estava ali à barra mas sacudido de uma maneira que os mais experimentados que se chegavam à praia diziam perdido. O mar iria destruir aquela casca de noz. Porém, Frei Bartolomeu dos Mártires disse à menina que ao dar a quinta badalada na torre de S. Domingos, o pai e os companheiros estariam a salvo e haveria uma surpresa. Foi a rapariga para a praia e começaram a dar as badaladas na torre. O barco foi-se chegando ao areal e à quinta estava a salvo. A surpresa? O fundo a abarrotar de peixe! Correram a agradecer ao frade, que nem lhes quis aparecer...


Sem comentários: