Um golfinho costeiro foi acolhido pela população de cetáceos do estuário do Sado pela primeira vez. Desde Julho que um também roaz-corvineiro foi recebido na comunidade, onde deu entrada com várias lesões, admitindo os biólogos que tenha sido expulso do núcleo selvagem onde nasceu, pela própria mãe ou pelos adultos dominantes. O fenómeno surpreendeu os biólogos, mas este novo elemento traduz uma boa notícia para o grupo, agora formado por 29 exemplares, cuja subsistência vem sendo ameaçada, sendo a consanguinidade um dos maiores problemas com que se debatem há vários anos.
Até à data, os biólogos da Reserva Natural do Estuário do Sado (RNES) ainda só tinham assistido a esporádicas permanências de golfinhos costeiros entre a população residente. "Podem ficar, no máximo, algumas semana, mas depois regressam ao mar. Este vai em cinco meses, pelo que decidimos agora oficializar a sua integração na comunidade", avançou a bióloga do RNES Marina Sequeira, tendo a reserva optada por lhe chamar Ácala (como os romanos designavam Troia), o nome que estava guardado para a próxima cria que nascesse no Sado, a seguir Todi, que veio ao mundo em Julho.
O novo golfinho está inserido no grupo dos juvenis, aparentando ter menos de seis anos, sendo que a sua chegada ao Sado estará associada à expulsão a que foi sujeito pelo grupo onde nasceu. Os biólogos admitem ter sido a forma da própria progenitora a provocar a sua emancipação, mas também não excluem a possibilidade de os cetáceos dominantes dessa comunidade o terem repelido por se tratar de um cetáceo "mais fraco".
"Isto é normal acontecer nos animais que vivem em grupo. Mesmo na comunidade do Sado, eles não andam todos juntos", sublinha Marina Sequeira, alertando que Ácala exibe várias cicatrizes, resultantes de algumas lesões sofridas, que não inspiram cuidados. "Os do estuário também têm algumas cicatrizes, embora não sejam tão significativas".
A integração do novo elemento na comunidade á a segunda surpresa em dois anos, dado que em Novembro de 2010 a fêmea Mr. Hook, que tinha abandonado a população por um ano, regressou às origens com o filho Vitória, tudo indicando que terá acasalado com golfinho costeiro. De resto, depois do declínio que perdurou até 2005, quando existiam apenas 23 exemplares no Sado - ultrapassavam os 40 na década de 80 -os cruzamentos com costeiros são a janela de esperança. Apesar dos raros convívios entre a população residente e os congéneres costeiros, os biólogos admitem que a preservação da comunidade sadina poderá mesmo depender deste fator, como já confirmou Francisco Andrade, responsável pela equipa do Instituto do Mar (Imar), que defende que se estes acasalamentos não surgirem,o risco de extinção é grande.
RISCO DE EXTINÇÃO
Nos últimos 12 anos, nasceram 12 golfinho no Sado, cinco deles entre 2010 e 2012, dos quais dez sobreviveram, mas mesmo com a chegada de Ácala o perigo de extinção não pode ser eliminado. Dos actuais17 elementos adultos que compõem a comunidade, apenas três são jovens com capacidades reprodutivas. A poluição e o stress provocado pelas embarcações de recreio têm sido apontadas como causas do progressivo desaparecimento dos golfinhos. Uma das razões para o declínio deve-se à baixa sobrevivência dos juvenis, com uma taxa de mortalidade da ordem de 13%. A falta de adultos deu origem a uma estrutura etária instável.
DN -16.12.2012-
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