sexta-feira, 15 de maio de 2009

LENDAS DE PORTUGAL - VII - CABECEIRAS DE BASTO

Até ali, por S. Miguel, basto eu!

Embora tenha mudado de sítio, o Basto lá está na Praça da República, em Cabeceiras de Basto. Pela bizarra da composição da figura, é um dos mais curiosos monumentos de todo o país! Representa um guerreiro lusitano e, de facto, trata-se de uma dessas estátuas jacentes de figuras admiradas que se colocavam sobre túmulos. Em granito, parece vestir túnica, exibe um escudo sobre a barriga, pendendo-lhe o punhal e a espada embainhados. Ora a estátua foi alterada por duas vezes, pelo menos está datada de 1612 e de 1892. Acrescentaram-lhe, sempre de pedra, uma barretina, umas bigodaças e meteram-lhe meias e botas. No escudo tem a inscrição: Ponte de S. Miguel de Refoyos 1612. Ora a lenda... A Lenda do Basto é muito antiga. Vamos copiá-la de um folheto municipal:
O império visigodo não resistiu aos ataques dos mouros, comandados por Tarik. Espalhando o terror, estes avançaram ávidos de glória através da Galiza. Os ecos dos seus ataques chegaram ao Mosteiro de S. Miguel de Refojos, mas não merecem crédito. Bracara Augusta caiu também nas suas mãos. Então acreditaram e preparam-se para a defesa com uma centúria de servos e homens de armas comandados por D. Gelmiro, venerando abade do mosteiro. Hermígio Romarigues, parente do fundador do mosteiro, era o guerreiro-monge que mais se destacava pelo seu porte avantajado de grandes e possantes membros e com o rosto retalhado por mil golpes das escaramuças passadas. Postando junto à ponte que dava acesso ao mosteiro, ao aproximar das tropas de Tarik estendeu a mão possante assegurando:
"Até ali, por S. Miguel, até ali basto eu!"
E bastou. Três vezes arremeteram os mouros contra as débeis defesas do mosteiro. Mas por três vezes foram repelidos pela espada de Hermígio Romarigues. A ponte sobre a ribeira ficou atulhada de corpos e os chefes infiéis tiveram de tratar com D. Gelmiro de igual para igual, gorando-se, deste modo, a suposta intenção de arrasarem o mosteiro e decapitarem os monges. Posteriormente, o monge-guerreiro ter-se-á integrado no reduto cristão situado na Astúrias, de onde irradiava já a Reconquista a partir de Covadonga, sob o comando de Pelágio.
Hermígio Romarigues, O Basto, foi imortalizado através da estátua que erigiram em sua homenagem, como reconhecimento pelos serviços prestados a El-Rei Pelágio.
Mas uma vez os frades de Refojos foram vencidos. Por uma mulher, D. Comba, que levou a sua vingança a ponto de mandar pensar os cavalos dentro da própria igreja do mosteiro. Fidalga da Casa da Taipa, cruel, exigia que lhe fritassem vivas as trutas acabadas de pescar no ribeiro próximo. E, quando morreu, num estrondo, desapareceu do caixão em que levavam a enterrar em Fafe! Dizem que todas as sextas-feiras, bem de noite, o seu espírito anda à volta da capelinha de sua casa...

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