A República Federal da Alemanha celebra 60 anos e é uma história de sucesso
Quatro anos após a capitulação da Alemanha nazi, trocadas 169 milhões de palavras e escritas 750 mil páginas, no Conselho Parlamentar, seria promulgada, em Bona, a 23 de Maio de 1949, por Konrad Adenauer, a Lei Fundamental Alemã. "Quem viveu de forma consciente os anos desde 1933, agradece, com o coração comovido, que hoje nasça uma nova Alemanha", foram as palavras do patriarca.
Desmontados, pela geração de 68 e pelo terrorismo da RAF, o conformismo e os mitos do "nicht-gewusst-haben" ("não sabia de nada") e do "nicht-anders-gekonnt-haben" (não podia ter agido de outra forma") e sarada a cicatriz histórica do Muro, o país encontrou o seu lugar no concerto das Nações. Ao celebrar o futebol, em 2006, o povo descobriu que pode acenar a bandeira, ter orgulho em ser alemão, sem ter que se justificar. Passado, identidade e modernidade são os volantes de um único debate sobre o futuro, regido a partir de Berlim. Aos 16 anos de reinado de Helmut Kohl - marcados pela integração europeia e pelo reconhecimento de que Auschwitz tem um carácter único - seguiram-se sete anos de uma coligação entre sociais-democratas e verdes, uma ruptura ideológica e o fim da "República de Bona". Ironicamente serão os representantes da geração de 68, Gerhard Schroeder e Joschka Fischer, que decidirão o uso, sem complexos, da força militar como elemento da política externa, uma evolução que ocorre no contexto da Guerra do Kosovo, em 1999. Mais tarde, Schroeder falará de uma democracia madura "que tem o direito a dizer não". A oposição alemã à estratégia americana no Iraque é reveladora de uma outra aspiração: que a Alemanha seja reconhecida como um parceiro soberano, capaz de se opor aos EUA. Sessenta anos decorridos sobre a sua fundação, 90% dos alemães consideram que a história da República Federal é uma história de sucesso, mais de 70% afirmam que, no país, existe justiça social e cerca de um terço têm orgulho em ser alemães.
Bundespraesident Horst Koehler und Kanzlerin Angela Merkel
Uma campanha imprevisível
Em 2009, o país encontra-se de novo numa fase de mudanças. A eleição como chanceler da líder democrata-cristã, Angela Merkel, em 2005, teve uma dupla dimensão. É histórica, porque ela foi a primeira mulher, o primeiro cidadão do Leste e a mais jovem personalidade a liderar um Governo germânico. Todavia, marca também a emergência de aliança contranatura, ente democratas-cristãos e sociais-democratas, uma grande coligação que poderia ter reformado a Alemanha e não o conseguiu fazer - só o desemprego deve afectar mais de 5 milhões até 2010.
A quatro meses das legislativas, a chanceler vive, ao contrário do seu partido, um invejável estado de graça. E já anunciou estar disposta a formar novo Governo com os liberais do FDP. Como os sociais-democratas também não querem reeditar a presente coligação, a campanha promete. Pela primeira vez, apresentam-se seis partidos e com excepção de um -Die Linke, Partido de Esquerda- todos têm hipótese de integrar o futuro Governo de Berlim.
Visão Nº 846
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